sábado, 28 de julho de 2012

Lectura simultánea

A veces leo varios libros simultáneamente. Por ejemplo, ahora estoy leyendo A outra volta do parafuso, de Henry James, y también Ensayos y poemas, de Edgar Allan Poe, y Orgulho e preconceito, de Jane Austen. Además, claro está, de la continua lectura del infinito libro de la vida del cual todo es una letra, en la feliz expresión de Jorge Luis Borges en su poema “Para una versión del I King, el libro de las mutaciones.” Estas lecturas simultáneas, a las cuales han de agregarse la de otros libros como Os papéis de Aspern, también del ya citado Henry James, me propician una deliciosa fuga del mundo cotidiano. Y ya que de esto estamos hablando, relataré una curiosa experiencia que me ocurrió esta tarde. Estaba no sé si leyendo o por leer el primero de los libros de Henry James aquí mencionados, cuando vi una tapa de libro, y en ella, una ventanita cortada, como las que cortaba en cartulinas cuando era chico. Esto era: una ventana dentro de la puerta. La puerta del libro me lleva a un mundo infinito. También noté, a leer el libro de Poe -- que es una curiosa recopilación de poemas y ensayos del autor de A queda da casa de Usher – que al leer, me conectaba con innumerables otras lecturas, simultáneamente, componiendo un infinito libro horizontal, que se extendía en todas las direcciones. La lectura es, entonces, siempre lectura simultánea.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Escrevendo

Pode haver uma alegria maior do que sabermos quem somos? De eu saber quem eu sou? Para mim, não há, e não creio que possa existir uma alegria maior. Nestes dias passados, nos dias passados com a turma de terapeutas comunitárias e comunitários em formação em Lagoa Seca, e hoje, quando estive com colegas da ABRATECOM e do MISC-PB em Jacumã, nos preparativos para a escolha do lugar onde será o congresso da Terapia Comunitária Integrativa em 2013, tive outra vez esta certeza. A minha certeza vai e vem, como tudo em minha vida. Vai e vem, talvez tenha sido esta a minha sina. Talvez seja esta a minha sina. Vai e vem. Sou um escritor. Achei que fosse outras coisas. Pintor, sei lá. Sociólogo. Mas por que um sociólogo não pode também ser um escritor? Ou por que um escritor não pode ser também sociólogo? Poeta. E o que é um poeta, a não ser um escritor, alguém que traz a vida, a beleza do mundo, o instante, a fugacidade do presente, para o papel? Enquanto escrevo estas coisas, vem um alivio no peito. Nada melhor do que saber quem eu sou, do que saber quem a gente é. Sou outras coias, também. Ninguém é uma única coisa. Temos papéis sociais. Mas ser, o que se diz ser, somos uma coisa só. Nestes dias em Lagoa Seca, me dei conta disto. Soube disto sem margem de dúvidas. E isto já é dizer bastante, pois as dúvidas são uma companhia constante. Sabermos alguma coisa com certeza, traz clareza para a nossa vida. Me dei conta de que trago a vida para o papel. Isto me faz bem, e faz bem a quem lê. As pessoas se veem nos meus escritos, e eu me leio na leitura que as pessoas fazem de si e de mim, da vida, de tudo, nos meus escritos, e na vida que se escreve a toda hora, em todo momento e lugar. Nunca tinha colhido tantos ecos profundos em tão pouco tempo. Seria uma mania pelo sucesso? Há algo de errado em ser feliz, em se alegrar? E se esta alegria nossa tece laços de união entre as pessoas, e se esta alegria nossa, esta alegria minha, tem muito de ti, de mim, de nos, de todo mundo? O que há de errado em ser feliz? Muitas vezes nestes dias em Lagoa Seca, pensava, por que não estava com a turma nas vivências, nas rodas. E por que não estava? Porque estava rodando nesta outra roda, nesta roda que roda enquanto lês. É a tua própria roda, é a minha roda. É a roda da vida. Ao longo da minha vida, li e escrevi bastante. Mas as palavras que tem vindo nestes dias, me dão a certeza de que houve um nascimento, um re-conhecimento. Agora sei quem sou. Sou um escritor. E ser um escritor não me obriga a publicar livros, ou a esperar ser um sucesso de vendas. Pode haver outro sucesso, e há. O de se ver refletido nos leitores e leitoras. Isto é um sucesso. O de ir-se construindo coletivamente com uma turma que vai em busca de si mesma. Agradeço às pessoas que tem dito nas rodas em Lagoa Seca, lembro delas, sei seus nomes. E hoje em Jacumã, e pela internet, via e-mail. Nessas palavras das leitoras e leitores, tenho ido me re-conhecendo. Do mesmo modo que fui me re-encontrando nos livros que li ao longo da minha vida. Poderia continuar escrevendo. Escreveria até a noite passar. Até a luz do sol raiar. Escreveria até o mundo ser mais mundo. Até a humanidade ser mais humana. Escreveria agradecendo a cada escritora e escritor que me acolheu ao longo da minha vida. Não foram poucas nem poucos. Aos poucos, umas e outros foram abrindo um espaço para que eu me reconhecesse. E as palavras começam a querer dizer nomes. Hermann Hesse. Anaïs Nin. John Lennon. Paul Mc Cartney. Julio Cortázar. Fernando Pessoa, Graciliano Ramos. Juana de Ibarbourou. Gabriela Mistral. Sor Juana Inés de la Cruz. A lista seria infinita. Infinita na escala deste que escreve. Swami Vijoyananda. José Saramago. Tantos nomes. Todos os nomes. Jorge Luis Borges. Iria pondo os nomes e iria indo aos lugares onde me levaram esses relatos, esses livros. Arthur Clarke, A cidade e as estrelas. Ray Bradbury, Crônicas Marcianas. Agora a noite vai entrando dentro dela mesma, e em algum lugar as estrelas devem ter já começado a brilhar, lá no alto. Pode haver nuvens, mas elas brilham sempre, lá no alto, em algum lugar. A gente escreve, mas até as palavras tem o seu tempo de se guardar. Ou sobre tudo, as palavras sabem o tempo de falar. Falam e calam, ao seu tempo. É o tempo: tempo de escrever, mesmo em silêncio, mesmo caladamente. Tudo escreve.