quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Infância

Hoje prossegui com a leitura do livro de Nathaniel Branden, Auto-estima, como aprender a gostar de si mesmo. O exercício durou pouco. Consistia, como nos dias anteriores, em completar sentenças propostas pelo autor. Mas esse breve tempo, como em alguma das jornadas anteriores, foi suficiente. Suficiente como para ir me trazendo mais para cá, me trazendo mais para o presente. O contato com o eu-criança aviva as memórias dos meus primeiros anos de vida.

Juventude e adolescência. A vida vai se costurando de maneira mais forte. Integridade, uma palavra que o autor repete bastante, tem muita força. Integridade: qualidade e condição de ser um. Uno. Ontem à noite lia as Pequenas memórias, de José Saramago, alternando com Infância, de Graciliano Ramos. Um autor puxa outro, uma infância puxa outra, e entre todas, vão nos trazendo de volta. Vieram também Ray Bradbury, Howard Phillips Lovecraft, Julio Cortázar. O presente vai se tornando mais e mais o tempo da gente, o lugar onde a gente está. Presente.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Dispensando

Eu não necessito estar pensando o tempo todo. Posso pensar, mas também posso não pensar, dispensar toda essa sobrecarga valorativa, explicativa, justificadora, que se impõe sobre o que está aqui, e me separa do que está aqui, do ser que eu sou, do fluxo da vida que flui, constantemente.

Hoje de manhã percebi isto, e senti uma profunda paz. Havia um silêncio muito notável e agradável. Percebi que isto ocorria porque eu não estava pensando. O pensamento cria problemas, é o refúgio do medo, do preconceito, das preocupações, me separa do mundo e de mim mesmo.

A vida não é para ser pensada, é para ser vivida. No túmulo de Karl Marx, está escrito: até agora os filósofos se ocuparam de interpretar o mundo: é necessário transformá-lo. Há um pensamento libertador, que é quase um dispensamento, um não-pensamento, um silêncio muito grande e envolvente, que traz paz e quietude.

Quando penso em Julio Cortázar, ou em Paulo Freire, vem uma paz muito grande. Não foram teóricos, técnicos da palavra. Não contribuiram para entulhar a mente das pessoas com mais e mais interpretações, mais e mais jaulas conceituais. Ao contrário, abriram espaços de fluidez, espaços por onde a vida pode chegar, brechas para o viver. Creio que podemos ter a possibilidade de pensar ou não pensar. Mas existe um automatismo, uma espécie de mecanismo que funciona mesmo sem a concordância da nossa vontade, e que começa a funcionar no começo do dia, e não para. É o pensar que separa, o pensar que rouba o presente.

Mas depende de nós se nos deixarmos ou não roubar o presente. Posso dispensar essa cortina invisível mas muito poderosa que se sobrepõe a este instante, que me faz crer que não gosto de alguém ou que tenho medo de alguma coisa. Este pensar me rouba o presente, porque é uma continuação de um passado, e não de um passado feliz, mas de um passado pesado, penoso e triste, condenatório e culposo.

Eu não preciso perder a vida por conta das preocupações, das culpas, do medo. Posso viver. Tenho essa chance. Depende de mim. Posso dar a mim mesmo essa possibilidade, de simplesmente estar aqui, de simplesmente me integrar no fluxo da vida. Creio que isto deva ser o que Jesus dizia quando nos exortava para que fossemos como crianças. Criança flui, criança é celebração, criança é vida, e vida nova, renovada a toda hora.