Poucos
textos tenho encontrado tão benéficos para mim, quanto o de Anaïs Nin, intitulado
“A nova mulher, no seu livro Em busca de
um homem sensível. Inspirador, mobilizador, revelador. Aos poucos vou
mergulhando em cada uma das suas frases, cada um dos seus insights. Não posso menos que recordar com profundo agradecimento,
ao aluno que me deu este texto, quando eu era professor na Escola de Sociologia
e Politica de São Paulo. Volto e volto mais uma vez sobre este escrito, como
quem tem a certeza de estar a encontrar ainda e sempre, mais dessa riqueza que
só a arte profunda e autêntica tem para nos oferecer. Irei me deter agora nas
frases iniciais desta peça tão valiosa. Um texto de 1974, que eu vim ler em
1984. Diz a autora:
Por que as pessoas escrevem? Já me fiz tantas
vezes esta pergunta que hoje posso respondê-la com a maior facilidade. Elas
escrevem para criar um mundo no qual possam viver. Nunca consegui viver nos
mundos que me foram oferecidos: o dos meus pais, o mundo da guerra, o da
política. Tive de criar o meu, como se cria um determinado clima, um país, uma atmosfera
onde eu pudesse respirar, dominar e me recriar cada vez que a vida me
destruísse. Esta é a razão de toda obra de arte.
Só o artista sabe que o mundo é uma criação
subjetiva, que é preciso escolher, selecionar. A obra é a concretização, a
encarnação do seu mundo interior. Ele espera impor sua visão pessoal,
partilhá-la com os outros. Se não atinge esta última finalidade, o verdadeiro
artista persiste assim mesmo. Os poucos momentos de comunhão com o mundo valem
esse sofrimento, pois finalmente esse mundo foi criado para os outros como um
legado, como um dom destinado a eles.
Também escrevemos para aprofundar o nosso
conhecimento da vida. Para atrair, encantar e consolar. Para degustar a em
dobro vida: no momento preciso e retrospectivamente, na sua lembrança. Escrevemos,
como Proust, para tornar as coisas eternas e para nos convencermos de que elas
o são. Para podermos transcender a nossa vida e alcançarmos o que existe além
dela. Escrevemos para aprender a falar com os outros, para testemunhar nossa
viagem no labirinto. Para abrir, expandir nosso mundo quando nos sentimos
sufocados, oprimidos ou abandonados. Escrevemos como os pássaros cantam, como
os primitivos dançam seus rituais. Se você não respira quando escreve, não
grita, não canta, então não escreva porque a sua literatura será inútil. Quando
não escrevo meu universo se reduz; sinto-me numa prisão. Perco minha chama,
minhas cores. Escrever deve ser uma necessidade, como o mar precisa das
tempestades –é a isto que chamo respirar. (pp. 18-19)
Estas
palavras e afirmações, que estiveram e continuam a estar comigo ao longo de
todos estes anos, tenho a certeza de que continuarão a ser um exemplo vivo do
que é uma obra de arte. Não é por acaso que venho nesta oportunidade a
revalorizar estas palavras mobilizadoras e libertadoras. A pressão sobre as
pessoas neste instante, é enorme. As redes sociais, o estado, a chamada
imprensa (que imprensa), parece não deixar mais do que algumas brechas, uns espaços
mínimos, por onde podemos ainda respirar, ainda insistir em tentar a vida.
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