Impossível dar
as costas a este cenário da atual política brasileira. Fere a nossa
sensibilidade, a nossa humanidade, um governo encabeçado por alguém que em rede
nacional de TV, durante o grotesco e fraudulento “processo” de impeachmet
contra Dilma Rousseff, agrediu a então presidenta da República, elogiando quem
fora seu torturador.
De lá pra
cá, não havia mais dúvidas sobre o que é que estava se cozinhando. A destruição
do Brasil, como prova cada ato de agressão à cidadania e à justiça, à cultura e
aos direitos humanos, aos direitos sociais e às mais elementares normas de
convívio civilizado. Um “presidente” que associa sua imagem à morte. Não é o meu
presidente. Eu estou sem presidente.
Isto tem
precedentes. Não reconheço a autoridade de quem a não têm. Respeito, no
entanto, é obrigatório, até para com quem não pratica nem merece respeito. Não
merece, mas deve ser respeitado. Deve ser respeitado, pois que têm o poder de
fazer o que lhe der na telha e, a julgar pelos caminhos destrutivos já
adotados, é melhor prevenir.
Respeito a
delinquência política institucionalizada, da mesma maneira que respeito,
obrigatoriamente, um ladrão e um criminoso comuns. Respeito-os pelo mero fato
de que têm o poder de decidir sobre a minha vida, e sobre a vida das pessoas
deste país. Mas o poder de impor obediência não deu nem nunca dará legitimidade
a nenhum governo, a nenhum ladrão, a nenhum criminoso ou criminosa. Isto é
sabido por quem tem alguma noção de história.
A história
não é feita pelos vencedores nem pelas vencedoras. A história é feita, e se faz
todo dia, pelos sobreviventes. As pessoas que não se dobram, as pessoas que têm
dignidade, valores e princípios de conduta. Gente que não vive apenas para
obter vantagens ou privilégios. Gente que conhece o valor da vida. Venho de um
encontro com este tipo de gente, gente.*
E podem
crer que o alimento para o espírito que nasce destas oportunidades em que
convergem saberes e trajetórias de vida de distintos lugares da sociedade, reacendeu
em mim o sentido de viver alinhado com os valores superiores.
Peço
desculpas a mim mesmo, por ter tomado o tempo de quem esteja lendo isto,
apontando a desumanidade ao invés de enfatizar o que me orgulha neste nordeste,
neste Brasil, neste mundo: as pessoas que não se vendem, mas vivem por
sentimentos de amor e de cuidado que começa em si mesmas e se
expande alcançando as pessoas em volta, que necessitam de apoio e
solidariedade.
É tentador
apontar os desmandos de quem pratica a arbitrariedade contando com a
impunidade. O meu foco não está aí. Ao contrário, pertenço ao número dos que
dão as mãos para fazer entre todas e todos, um mundo melhor, mais solidário, mais
ciente de que é a diversidade e o respeito à pluralidade o que nos enriquece e
valoriza como seres humanos.
Um Brasil
assim começou a ganhar fôlego com as presidências de Lula, do PT. Inclusão,
inclusão, inclusão. Pobres, negros e negras, índios e índias, mulheres,
ganharam não apenas visibilidade, mas também o direito de existir. O PNUD
(Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas) elogiou os programas sociais
dos governos de Lula, como modelo mundial a ser seguido como exemplo.
Daí, em
2013, a paciência da criminalidade institucionalizada acabou. Anunciado em rede
nacional de TV, pela figura do elemento do PSDB derrotado nas eleições
presidenciais, tiraram o PT do governo. Para fazer isto, racharam a cidadania,
estimularam e se aproveitaram dos preconceitos racistas, misóginos,
homofóbicos, do classismo mais bestial e desumano, que odeia pobres por serem
pobres, trabalhadores por serem trabalhadores. Chamam docentes de vagabundos,
atacam artistas.
O esgoto
tornou-se motivo de orgulho e a bestialidade assumiu o poder. Frente a este
panorama, não podemos baixar os braços. Temos que continuar promovendo a vida
em toda sua maravilhosa e deslumbrante multiplicidade, traço
distintivo de Deus, que quis que houvesse infinitas variedade de seres humanos. Precisamos ainda mais valorizar o estudo e a pesquisa, o
conhecimento da história e da filosofia, o cultivo das artes que são espaços de
criação e exercício da liberdade.
Somente o
aprofundamento nesse manancial cujas portas se encontram nos contos, nos
romances, nos bons filmes, na pintura, no desenho, na dança, na poesia,
tornamo-nos menos que gente. A vida é curta, é muito breve realmente como
para que possa ser desperdiçada sem a ter explorado e desenvolvido em
profundidade em todas as suas dimensões e possibilidades.
Faço votos
para que aquelas autoridades e pessoas da população que não amam este país e o
seu povo, deixem o país. Deixem o povo viver, deixem o povo desfrutar da vida,
que é um dom divino. Vão se embora para algum lugar onde possam cultivar as
suas aberrações e anomalias, se é que existe tal lugar.
*Curso de
formação em Terapia Comunitária Integrativa. Centro Diocesano de Treinamento “Dom
Antônio Batista Fragoso,” Crateús, CE.
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