sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Fluindo

Essa manhã, ao acordar, soubera o que sempre soube: que a sua natureza é sobre tudo artística. Intuitiva, voltada para o belo, para o fantástico e imaginário. Para esse mundo tênue que agora que já é de noite, começa a se re-configurar na memória. Sentira então um des-engate, um des-enganchar-se de certas birras do cotidiano, aversões reais ou imaginárias contra alguém. Deixara-se levar pelo dia, como quem vai fluindo por entre as pedras. Levemente. Podemos ter problemas se os criarmos. Podemos deixar de lado isto, e simplesmente tentar estar aqui. No terreno da experiência, há menos problemas. Há tarefas, atividade.

Dias atrás, escrevera no caderno, que mais do que mudança de opiniões ou de ideias, mudanças no plano da interpretação ou das explicações ou crenças ou ideologias (o plano mental, propriamente dito), o que viera se operando e continuava a se operar, era uma mudança de visão. Uma mudança em uma imagem do mundo que contém tudo que é experimentado, tudo que existe. Esta mudança é de uma natureza apenas perceptível, mas muito real. Isto o tranquilizara. A percepção da sua natureza mais íntima e a visão desta realidade tênue que contém tudo, e que o contém, que inclui todas as coisas, é profundamente tranquilizadora. Afinal, pensava, a minha parte infinita é muito maior. Isto não era uma ideia, era uma sensação, é uma sensação. A nossa parte eterna é muito maior. Apenas precisamos lembrar disto. Escreveria um livro. Mas não é o que fazes sempre, pensou. O livro é o que vai sendo escrito a cada dia. Pode ser que o puliques em papel ou não. Recolhes impressões de gente que te faz chegar o seu afeto. São gotas de orvalho, pérolas. Um rosário vai se compondo.

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