A
partir do momento em que comecei a escrever e a colaborar em meios
digitais, lá pelo ano de 2001, comecei a perceber o enorme efeito
terapêutico deste ato tão simples e tão significativo, o ato de se
comunicar, o ato de partilhar o que vamos vendo e percebendo. As
lições que pude ir aprendendo nesta empreitada, continuam a se
mostrar, e continuo achando que seja uma tarefa proveitosa, a de
seguir partilhando neste cara a cara às vezes distante, às vezes
presencial com as leitoras e leitores, o que vou aprendendo. De
longe, o efeito mais benéfico deste ato de escrever e partilhar, é
o de ir trazendo para minha própria consciência, a vida tal como a
experimento. Não a vida pensada, mas a vida vivida. O exercício de
escrever e partilhar, traz como consequência a emergência de um
viver mais autêntico e verdadeiro, o retorno de um estado infantil e
puro de existir. Isto é muito prazeroso, porque embora os anos
tenham passado, é como se estivéssemos indo na contramão da
cronologia, cada vez mais jovens por dentro. Posso dizer com toda
franqueza, que esta atividade que estou praticando de maneira
continuada desde o ano de 2001, foi me trazendo frutos tão
agradáveis, que a minha própria vida foi chegando a um estado de
integração em que me encontro hoje. É como se o mundo em que vivo,
meu dia a dia, tivesse sido moldado com as minhas próprias mãos.
Cada vez vivo mais no meu próprio mundo, um mundo que tem a minha
cara. Mas isto somente é possível porque tenho praticado o diálogo
com um sem número de pessoas com as quais pude ir conversando sobre
o que escrevo. Se hoje vivo em um mundo mais humanizado, é porque
fui me tornando mais permeável ao que os demais pensam e sentem
acerca do que escrevo. Desta forma, esta atividade que é muito
solitária em alguns sentidos, foi se tornando cada vez mais social,
cada vez mais coletiva, mais comunitária. Sinto que o mundo em que
vivo hoje é mais integrado, ou eu me integrei mais no mundo. Isto é
muito bom porque é como se progressivamente estivesse chegando ou às
vezes estivesse habitando plenamente em uma realidade que as palavras
dificilmente conseguem descrever, e sobre a qual posso dizer apenas
que é como se fosse a terra prometida. Lembro então muitas vezes
das palavras do padre José Comblin, com quem tive o privilégio de
conviver por um tempo: “a terra prometida estava no seu próprio
coração.” As últimas palavras que escutei dele, dirigidas a mim,
foram estas: “seja fecundo na sua literatura”. Sinto como se o
tempo ao meu redor tivesse se compactado. Nada disto teria sido
possível em solidão. É fruto do crescimento que o diálogo
possibilita. O diálogo nos humaniza, nos faz gente.
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