terça-feira, 1 de março de 2011

Imortalidade

Tenho começado a ler o livro de José Saramago, As intermitências da morte. Fazia muito tempo que um livro não me atrapava assim. E digo que o livro atrapa mas é a história, ou a estória, que até hoje não sei ao certo como é que se diz de verdade, viu? Mas o caso, ou seja, melhor dizendo, o que quero dizer, é que me parece vedadeiramente interessantíssimo que alguém possa ter construído, como de fato construiu, um enredo como esse, da suspensão da morte num país cujo nome não se cita. E, a partir deste momento em que as pessoas deixam de morrer, o que ocorre naquele país de nome desconhecido, em que todo mundo começa a ter que se virar com a tão desejada quanto agora temida imortalidade. Não por acaso, agora de tarde, e depois de uma noite em que fora difícil conciliar o sono, pego um livro de Fernando Pessoa, Eróstato e a busca da imortalidade. Verdadeiramente é um descanso, um remanso, ler as sentenças de Fernando Pessoa, depois de ter perdido o sono com o relato de Saramago sobre a suspensão da morte e as mudanças no cotidiano de um país e da sua gente disto derivadas. Ler é bom, e temperar um autor com outro, é ainda melhor. Silvina Ocampo, uma escritora argentina de quem não tinha ainda lido uma palavra, ontem me deliciou com trechos das suas memórias, intituladas La Promesa, publicados na revista do jornal La Nación. O mergulho nestes escritos me levou ou me trouxe para um mundo de quietude e paz, um mundo de imaginação e de memória, em que a vida é recriada a partir de olhares capazes de pôr no papel um relato original, muito próximo da vivência, longe dos estereótipos e das palavras gastas e repetidas. Isto me lembra de Jorge Luis Borges, em quem também tenho encontrado, muitas vezes, um remanso de paz e quietude. Penso em Límites: De estas calles que ahondan el poniente, una habrá, no sé cual, que he recorrido ya por última vez indiferente, y sin adivinarlo sometido a Quien prefija omnipotentes normas y una secreta y rígida medida a las sombras, los sueños y las formas que destejen y tejen esta vida…

Nenhum comentário: