sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Integração de opostos

Tenho partilhado algumas reflexões sobre várias das perguntas que se fazem no contexto da Terapia Comunitária Integrativa e/ou dos cursos de Cuidando do Cuidador (1). Quem é você? Você é quem você é ou quem os outros esperam que você seja? Você só tem sofrido, ou tem crescido com seu sofrimento? Agora gostaria de partilhar algumas reflexões sobre uma vivência chamada do Sol e da Lua. Combinando ambos os aspectos, positivo e negativo, luz e sombra. Espero que fique claro que aqui não estou fazendo outra coisa que trocando impressões com os leitores e leitoras. Estas observações não podem nem de longe, substituir a vivência em si. O que esta vivência faz, é nos levar a compreender de maneira integrada, as nossas flutuações de ânimo, as nossas variações emocionais. Nem sempre podemos estar no nosso auge. Nem sempre é meio-dia. Mas também nem para sempre será meia-noite. Vivemos em uma sociedade que costuma exigir demais das pessoas. Você tem que vencer sempre, tem que sempre ser o melhor, sempre chegar em primeiro lugar. Isto vai se internalizando em nós, e de repente podemos começar a não saber o que fazer quando não temos nada para fazer, por exemplo. Tanta ênfase nos valores positivos, no alcançar, nos deixa como que sem muito preparo para as descidas, para a passividade, para o aquietamento. Uma coisa que não gostaria de deixar de dizer, é que o conjunto das vivências e das perguntas para o auto-conhecimento desta perspectiva de abordagem e de transformação da pessoa humana, são sempre praticadas em grupo. Nada disto tem a ver com a chamada auto-ajuda, que supõe que as pessoas possam se libertar em solidão. Aqui, ao contrário, tudo conduz a que você recupere a sua percepção de si mesmo como parte de uma rede, como parte integrante de um conjunto humano, de pessoas que partilham com você valores culturais, pontos de vista, anseios e esperanças. Você deixa de ver a si próprio dissociado, separado, isolado, recortado e alheio ao devir humano. Ao contrário, cada vez mais a sua história vai se mostrando aos seus próprios olhos, como uma história muito singular, embora também muito parecida com todas as histórias das pessoas à sua volta. As pessoas que você encontra por aí, já não lhe parecem tão estranhas, nem tão distantes. Cria-se uma empatia. Perde-se em boa medida, boa parte do rechaço que o sistema implanta nas pessoas, pela vestimenta, pela aparência, pelo linguajar, pelos sinais externos. Pessoas de diferentes classes sociais percebem que tem muitas coisas em comum. Os percursos humanos tem algo de muito assemelhado uns com os outros. Ao longo deste trabalho de recuperação de uma visão mais integrada de si mesmo, a pessoa vai se vendo novamente, como quando em criança, como parte de um todo. Diminui em muito, então, a auto-exigência, passa a pessoa a gostar mais de si mesma do jeito que ela é, sem pressões constantes para estar fazendo isto ou aquilo, indo para um lado ou para outro. Só por estar em si mesma, consigo mesma, por ser quem ela é, a pessoa já sente uma alegria muito profunda. E aqui voltamos para o começo destas breves digressões. A equilibração, a aceitação dos opostos emocionais e energéticos dentro de cada um de nós e nos demais, é um ponto de partida para uma melhor convivência. -- (1) Práticas criadas por Adalberto Barreto.

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