domingo, 9 de fevereiro de 2014

Escrevendo encontro meu lugar

Às vezes a gente pensa que não tem um lugar no mundo. Pega uma caneta e começa a escrever. Sente que está onde deveria estar. A folha é um bom lugar para se viver. É um bom lugar para se viver. E está ao alcance da mão. É baratinho, também. Quanto custa um caderno, ou uma caderneta? Nem tanto assim. O benefício é imediato. Estou aqui. Sou isto, estas letras que vais lendo. Já devo ter dito isto muitas vezes, e seguirei dizendo. Não tem nada de mais em repetir, quando são coisas boas. A sensação de não se ter um lugar é terrível, verdadeiramente desagradável. E se esse lugar está aqui, sou eu, são estas letras, estas palavras, estes sentimentos ou vivências ou reflexões ou o que quer que me dê na telha de escrever, então é muito fácil. Uma terapia instantânea. Nem tenho que sair de casa. Ou até posso andar por aí, como gosto de fazer; por exemplo agora à tarde fui até o supermercado comprar umas latas de ervilha e peixe. Tinha um senhor no estacionamento que comentou sobre o calor da tarde. Estava de lascar. Reparei nas feições do homem, no sotaque da sua voz. Saindo do supermercado, um cara impaciente atrás de mim, se incomodou porque quis ceder o lugar para uma senhora bem velhinha que estava se aproximando do caixa. Fiquei tão irritado com a sua atitude, que disse para ele: vá, já que está tão apressado. O cara passou na minha frente. Olhei para ele e lhe disse, apontando para a velhinha: um dia talvez você tenha a idade dela. Enquanto o cara estava aguardando para ser atendido no caixa, reparei: estava olhando para a velhinha. Em seguida, o olhar da velhinha encontrou o meu. Saí, vim fazer uma tortilha e jantei com meu pai, que tem 92 anos e sempre vê o lado bom da vida. Hoje de manhã pensava: tem tanta coisa boa na minha vida! Poderia reclamar das coisas que não gosto, mas preferi ver o que tenho. Me alegrei de imediato. Agora já é de noite em Mendoza, e penso nela, em João Pessoa, sozinha como eu.

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