segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Em busca de si mesmo

Há alguns dias atrás, escrevi algumas anotações a respeito da busca de mim mesmo, da sensação de não estar de todo aqui, ou de não ser verdadeiramente eu mesmo, de sentir que estou a caminho, como querendo chegar mas ainda não chegando. Não era bem isso, mas algo parecido, alguma coisa assim desse estilo. Muitas vezes vale a pena insistir em algum tema que nos é muito importante, porque mesmo que o começo não seja uma ideia muito clara, e sim apenas uma noção vaga, podemos, no ir e vir de palavras e ideias, ir clareando alguma coisa. Dizia nesse escrito de dias atrás, que chamei de “Identidade”, que Julio Cortázar me dera muito consolo, pois ao ler o que ele disse de si mesmo, de ser alguém que desde pequeno soube não estar de todo onde deveria estar, um pouco mais à esquerda ou não sei mais para onde, mas não onde deveria estar, como os demais, explora o quanto essa estranheza fez por ele como literato, como poeta.

Nem sempre esse não estar de todo aí, que é o título da reflexão de Cortázar em “A volta ao dia em 80 mundos,” dá lugar à criação literária ou poética. Mas no caso dele, foi por esse corrimento, se assim posso me expressar, por essa sensação de não estar de todo aqui ou não ser verdadeiramente o que se esperava que ele fosse (isto é meu, não dele), que ele veio a se tornar quem foi. Quando li isto, senti um alivio bárbaro. Uma verdadeira sensação de consolo. Me vi refletido nele. E, ao partilhar meu escrito “Identidade” com pessoas amigas e da família, tive de volta um reflexo reforçador: essas pessoas de alguma maneira também sentiam que necessitaram, ao longo da sua vida, de um lugar para ser, de um lugar em si mesmos, que pudessem identificar com seu próprio eu. Hoje caminhava de tarde pela beira mar, como costumo fazer muitas vezes, e pensava se a questão seria a de se encontrar, a de finalmente dizer, cheguei, te peguei, você é eu, alcançando o nosso verdadeiro ser, coisa que duvido que possa vir a acontecer um dia, ou se a coisa seria, mais bem, a de dizer: agora sei quem sou. Agora me conheço. Ambas as coisas me pareciam tão coincidentes que pareciam uma só. Cheguei, sei quem sou. Uma coisa só. Andava pela beira mar, pessoas andando em uma e outra direção, os prédios de um lado, os coqueiros do outro, cachorros, crianças, tudo que é o cenário dessas horas da tarde quando todo mundo sai para passear um pouco, e pensava que estas reflexões iriam parecer uma cópia do texto de dias atrás, e pensava: pode ser, mas não tem nada não. O que é o que não se repete? Não se copia por copiar, mas para tentar encontrar algo a mais. Se encontrei ou não, você poderá dizer. Ou não.

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