domingo, 25 de dezembro de 2011

Identidade

Às vezes uma pessoa necessita de um lugar para ela mesma. Um lugar para si própria. Pode não ser um lugar grande, pode ser lugar pequeno. Basta ser um lugar onde ela possa ser. Creio que todo ser humano necessita um lugar para si, um lugar onde possamos ser nós mesmos. Pode não ser um lugar muito grande, nem muito visível. Pode ser um lugar bem pequenino, em lugares quase imperceptíveis. Mas é o lugar que necessitamos para viver, um lugar para ser. Como já tenho vivido um grande número de anos, à procura de mim mesmo, e não me acho, ou acho que não me acho ainda, e quando acho que estou para me achar, ocorre de outra vez ficar mais um pouco para lá, não sei bem aonde, mas um pouco ainda fora do lugar, e continuo tentando. Hoje veio esta certeza, de ser alguém que anda à procura de si mesmo. Talvez seja isto o que possa dizer de mim mesmo, que andei à procura durante muito tempo e ainda insisto. Ainda sei que vou me achar, ou ao menos vou tentar, vou continuar tentando em encontrar. Tenho um grande consolo em saber que Julio Cortázar, esse argentino sem fronteiras, andou à sua procura, e deixou um mapa, da mesma forma que John Lennon, e Gita Lazarte, e Mamina, e Juan Lazarte, e Jesus Cristo, todos e todas deixam mapas. Deixamos mapas para os que amamos, e seguimos à procura. Lembro de um escrito do Padre José Comblin, O Caminho, ensaio sobre o Seguimento de Jesus, a imagem que faz da mensagem de Jesus. Diz que a mensagem de Jesus é uma mensagem simples, e que essa simplicidade é para nós como a cidade no topo da montanha. Estamos sempre à procura, sem nunca a alcançar. Me parece ésta uma metáfora da condição humana. Estamos sempre como que quase a nos alcançar, quase nos pegando com as mãos, e de novo ficamos um pouco mais além, um pouco mais á esquerda ou mais á frente, em outro lugar. Julio Cortázar me redime. Ele diz que desde pequeno, soube ser alguém que estava onde não deveria estar, fora de lugar. Sinto isto de mim mesmo, desde que me conheço por gente, e ainda hoje, ou até hoje, ainda não sei a expressão certa, sinto ser alguém que anda por aí, alguém que tenta chegar e não consegue, que se aproxima mas não consegue de todo ser quem é, que está por chegar mas ainda falta. Um dia hei de chegar, acho. E nesse dia, gostaria de ver vocês por aqui.

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