segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Companhia

Às vezes coloco os materiais de pintura e de desenho na mesa da sala, sem saber ao certo se irei pintar ou desenhar. Não preciso me obrigar a isto. Mas faço esta ação, levo as caixas com cores, aquarelas, lápis, pastéis, como uma espécie de presente para mim mesmo. Como um agrado para mim mesmo. Desfruto deste ato de pegar a caixa de cores e os papéis, e levá-los para a mesa da sala. Ponho uns vidros com água. Pode ser que pinte ou não. Pode ser que desenhe ou não. Mas sei que eles estão aí. Cores e lápis, pincéis e borracha. E neste saber que estes materiais estão ali, algo em mim se satisfaz. Alguma parte minha, muito sutil, que já se espalhou em papéis em outros momentos, volta à tona. A pessoa é algo muito tênue. Não se completa apenas no fazer, por muito importante que o fazer possa ser. Há uma outra satisfação, tão ou mais importante, que é a desta espécie de expectativa, de espera, de contemplação, de possibilidade à espreita do que possa vir. Hoje, por exemplo, me dei este prazer. Os materiais estão lá na mesa, como aguardando. Isto me lembra das pinturas que fiz ontem, ou que vieram ao papel em dias anteriores. O dia está chuvoso. Pode ser que pinte ou não, que desenhe ou não, mas estou em boa companhia.

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