domingo, 24 de fevereiro de 2013

Tempo

Há algumas primeiras páginas verdadeiramente inesquecíveis. Lembro neste momento, da primeira página de A queda da Casa de Usher, de Edgar Allan Poe. A maneira como autor introduz o leitor ou a leitora na história. A forma como a personagem vai chegando às proximidades da casa de Usher. Outra primeira página notabilíssima, é a do livro de Rafael Alberti, La arboleda perdida. O autor se refere à abroleda perdida da sua infancia. Impossível esquecer o que o autor diz nessa primeira página. Como você de repente está la, naquela arboleda perdida da infância, onde tudo lembra passado, tudo é passado, tudo já se foi e no entanto está ali, e você também está ali. Esses dias atrás, li a primeira página de El otoño del patriarca, de Gabriel García Márquez. A mesma sensação. A primeira página já nos transporta a um mundo no qual não se sabe ao certo o que é o que, e, no entanto, é tão ou mais real do que este outro mundo, esta mesma máquina, este mesmo teclado desde donde são escritas estas palavras que você está lendo. Talvez finalmente tenha me decidido a partilhar estas observações, porque esta manhã, enquanto caminhava pela praia, via a água do mar chegando sobre a areia à minha frente, a água aparecendo quase parada, e no entanto estava se movimentando como sempre o faz. E as ondas, do mesmo jeito, pareciam se movimentar de maneira mais lenta do que o habitual, e no entanto, o seu movimento talvez fosse o mesmo movimento, na mesma velocidade, do que sempre foi e será. Quem pode saber?

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