domingo, 23 de dezembro de 2012

Feliz Natal

Ir às compras em lojas pode ser –geralmente é—uma experiência que põe em jogo quase todas as capacidades humanas. A começar, a paciência. A tolerância, estreitamente ligada à primeira. Nos diversos momentos em que você se vê obrigado a perambular pelos espaços entre as mercadorias de uma grande loja, ou em que você se interna no espaço não tão grande de uma sapataria, por exemplo, você vai se deparar com instantes nos quais terá que, ora orar, ora suspirar, ora deixar o pensamento vagar, ora se deixar atrair por algum ser humano do sexo feminino que passa por aí olhando ou indo não sei para onde. Tudo isto no meio às naturais indecisões às que se defronta você cada vez que tem que escolher alguma coisa, cada vez que tem que decidir. De início, você tenta comprar um par de meias. Mas não meias de esportista, não sou desportista, nem gosto de me parecer com um, e já me apresso em dizer que não tenho nada contra os desportistas, e muito menos contra as desportistas. Apenas que não gosto de parecer o que não sou. E então você fica olhando os pares de meias empacotadas, ou meias soltas, de diversas cores e tamanhos. Médio, pequeno, grande, gigante. Bom, este parece que se parece com o que creio estar a necessitar. A pois tá certo. Pego um, e vou segurando o pacote de meias até que chego em outro setor, a procurar outra prenda de uso diário, e a operação se repete. Então vem a questão da fila. Gente enfileirada com rostos os mais diversos, uns com crianças, outros em parelhas, outros sós. Fila preferencial, entro ou não entro? Ainda não tenho a idade oficialmente determinada, mas o cansaço, sabe como é. Entro. Outras pessoas que não deveriam estar na fila preferencial, também fazem de conta, como eu, que estão no lugar certo. A moça do caixa adverte a presença indevida de diversos seres humanos que não atendem às especificações da fila preferencial, e adverte: oxente, aquí é a fila preferencial, viu? Ninguém se dá por aludido. A fila anda, pagas, pegas o pacote, olhas para a vendedora e para o empacotador com a maior cara de inocência de que és capaz, e tentas pegar o caminho de saída da loja que, a essa altura da tarde, é um formigueiro, um labirinto de gente e mercadorias, luzes, sons. Chegas a um corredor de vidro e metal, luz. Vais te dirigindo para o estacionamento. Tirar o carro, depois de pagar no guichê. Três reais, para uma permanência como a que usaste. Voltas para casa. As ruas tantas vezes percorridas, agora iluminadas de Natal. Luzes, cores. A noite veio e voltas, voltas para casa, estarás sempre a voltar. Feliz Natal.

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