Muitas vezes não tenho nada para fazer. Venho então para o
mundo poético e literário. Ali posso me deixar estar, sem demandas de desempenho.
Sem exigências. Sem pretensões de nenhuma natureza. É como se neste espaço,
neste lugar feito da beleza do mundo e das coisas, das pessoas e das plantas,
de tudo que existe, estivesse no meu próprio lugar. Um lugar feito dos jardins
visitados, das flores contempladas. Dos entardeceres e amanheceres, das vistas
do mar à noite, quando a lua no meio das nuvens, nos vigia e protege. O lugar
dos sonhos realizados e por realizar, e, ainda, dos sonos impossíveis que a
nossa imaginação visita e constrói, para o seu deleite. Aqui volto a ser criança,
simples e puramente uma criança, a desfrutar do respirar, do ver o papel da
parede com seus desenhos, do estar à toda na vida, sem expectativas outras que
as de desfrutar, desfrutar, simplesmente e puramente desfrutar. Por isso, numa
tarde de sábado como esta, me deixo deslizar até esse mundo de beleza e
quietude, o mundo poético-literário, aonde fui sendo admitido desde o começo da
minha vida, a partir das leituras dos contos que a minha mãe nos lia, as
canções que as minhas avós cantavam, os campos floridos por onde um dia irei
para não voltar, porque estarei já no meu lugar.
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