domingo, 3 de maio de 2015

O massacre dos professores no Paraná e a Terapia Comunitária Integrativa

Várias entidades --como a OAB, Anistia Internacional, ENSP-Fiocruz, ABRASCO, entre outras-- tem se manifestado repudiando o feroz massacre praticado pelo governo de José Richa, do Paraná, contra os docentes que reclamavam pacificamente pelos seus direitos.

Este fato me remontou ao começo da minha vida política. Iniciei-me nas manifestações de rua com 13 anos, em 1966. Resistindo a uma ditadura que afastou da presidência da República Argentina o Dr. Arturo Uberto Illia, um médico decente, correto.

Passaram-se anos de atropelo às liberdades individuais. Tortura, assassinato de operários e estudantes. Hoje, na minha idade, a esta altura de mim mesmo, julgo que estaria traindo aquele jovem que saía à rua em favor da justiça e da liberdade, se me calasse diante do que soube que aconteceu no Paraná. Esses colegas, essas colegas, não me são indiferentes.

Eu me pergunto se nós, terapeutas comunitários-as, não temos algo a dizer a este país que está cada vez mais dividido entre os que se preocupam com o próximo, e os que praticam o egoísmo individualista. Ou a TCI seria apenas um passatempo, algo para certas ocasiões?

Eu comecei a me recuperar como pessoa, das sequelas que uma outra ditadura na Argentina, a do carrasco Videla, deixara em mim, nas rodas da TCI no bairro dos Ambulantes, em João Pessoa. Foi no meio dessa gente simples unida às docentes da UFPB e estudantes, que fui recuperando a noção de mim mesmo. A noção da pessoa que sou.

Passaram-se muitos anos. E cada vez que eu participava de um encontro de TCI, ia voltando mais e mais a ser quem sou. É por isto, que me sinto a vontade de me dirigir a vocês, colegas da TCI de todo o Brasil, pensando em dialogar abertamente sobre a gravidade do momento que o país enfrenta.

Silenciar diante das atrocidades praticadas contra os docentes do Paraná, nos tornaria cúmplices, por omissão, de algo que lembra as práticas da polícia da ditadura. Posso dizer a vocês, com a mão no coração, que isto, na minha opinião, não pode nem deve ficar impune.

Não poso esquecer que foi a omissão de muita gente de bem, que, por medo, calava, que as ditaduras que me tocou sobreviver, fizeram o que fizeram. Milhares de mortos e desaparecidos. No Paraná, foram 200 feridos. O que vamos esperar? Que venham por nós?  É melhor que nos encontrem de pé.

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